Pelos olhos de Larissa....
(*Personagem fictício).
"Dizem que os olhos são a janela para a alma, então hoje, eu vim contar um pouco da minha história, para ver se vocês conseguem me ajudar a entender um pouco da bagunça que tá aqui dentro!" (Larissa)
E novamente toca aquela
musiquinha do celular, avisando que era hora de acordar.
Segunda feira, 15 de abril de 2010; 06:30 da manhã. Hora de levantar, se
arrumar e ir para a escola.
Larissa tinha apenas 9 anos, mas
tinha que acordar sozinha, pois sua mãe trabalhava a noite, e estava dormindo
nesse horário.
“Que droga, não quero levantar.
Vou fazer o que na escola? Não consigo aprender mesmo! ” Pensou Larissa consigo
mesma. Mesmo contrariada, levantou, se
trocou e foi escovar os dentes. Quando se deu conta, a van escolar já estava
buzinando na frente da sua casa, e ela ainda nem tinha tomado café.
Larissa estava no 4º ano, aluna
de uma escola particular e desde que se "conhecia por gente" tinha dificuldades
na escola, “não conseguia aprender”.
Sua primeira aula daquele dia era
matemática, matéria que Larissa menos gostava e tinha mais dificuldade para
prestar atenção e, consequentemente, aprender.
“O que será que está acontecendo
ali fora? Ahh o 1º ano está no recreio!! Quando eu estiver no recreio, quero
comprar um pão de queijo e um suco de morango, daqueles de caixinha! Como será
que faz pão de queijo? Ou será que como uma coxinha, para variar um pouco? O
que será que eu comi no recreio ontem e....”
- Larissa, pode parar de batucar,
por favor? Pediu a professora.
“ Nossa, que susto, meu coração
quase saiu pela boca! Nem percebi que estava batucando! O Carlinhos já levantou
duas vezes para apontar o lápis! Será que o lápis dele está com defeito? Eu
tenho dois lápis de escrever aqui, será que ele quer um emprestado?
Levantando desse jeito ele não vai conseguir prestar atenção! Que horas será que são? Estou com fome, mal
posso esperar para o recreio! ”
-Ei, Larissa, você está chutando
a minha cadeira! Exclamou Clara,
coleguinha que sentava na carteira na frente.
“Eita! Nem vi que estava
balançando as pernas! Será que eu fiz isso? Desde que horas? Melhor eu começar
copiar, antes que a prof. apague e eu fique de novo sem recreio! ”
Porém, quando Larissa tomou a
iniciativa de copiar, já era tarde demais! A aula terminou, a professora apagou o quadro e, “por falta de tempo”, Larissa não copiou a
matéria: “ droga, quanto tempo será que vou ficar de castigo desta vez? E de
novo sem recreio! ” Os devaneios de Larissa
eram tantos que ela não notava quando se distraia e entrava em “em seu mundinho
particular”, e para ela, isso tudo era normal, todo mundo era assim, todos tinham mundos particulares e viviam mais nele do que no mundo presente.
A Próxima aula era de história, e
Larissa gostava muito dessa matéria.
- Hoje vamos estudar um pouco sobre a escravidão
no Brasil. Alguém lembra qual o nome daquela lei, que impedia os escravos com
mais de 60 anos ....
Larissa ficou eufórica! Levantou
as duas mãos, ficou em pé em cima de sua cadeira, pulou e gritou: -Eu, eu
professora! Nessas ocasiões, a menina parecia não se controlar, sentia o
coração disparar e uma agitação fora do normal, ela precisava falar! Por fim,
cansada de esperar (por poucos segundos) ela acabou podando a professora, que
ainda explicava o restante da lei e respondeu, antes de todos:
- Lei do sexagenário, Professora,
é a lei do sexagenário, falou ela já se sentando e sentindo um alívio e orgulho
si mesma por saber a resposta, antes mesmo de dar a chance da professora
terminar e escolher um aluno para responder a pergunta.
A aula seguiu e Larissa seguiu
focada, encantada pelo tema. Carlinhos apontou o lápis, o 2º ano saiu para o
recreio e nem a briga de dois alunos no pátio tirou sua atenção.
Larissa tinha um histórico de
muita desatenção em sala de aula, dificuldade em manter-se focada. Os professores tinham a impressão que ela vivia “no
mundo da lua”; perdida em seus pensamentos e devaneios. Ela não era uma criança inquieta, que vivia pulando e/ou se
machucando, mas vivia batucando com os dedos, com o lápis (que aliás, eram
mastigados), ou balançando os pezinhos (e por vezes chutando a carteira da
frente) e segundo ela, só notava esses comportamentos quando chamavam sua
atenção. Larissa só conseguia se concentrar e prestar atenção nas disciplinas e
assuntos de seu interesse, e quando isso acontecia, queria responder todas as
perguntas, não esperava sua vez, e por vezes, interrompia o professor para
falar algo que já havia lido ou estudado em casa.
Como perdia muitos conteúdos de
outras matérias, Larissa não conseguia aprendê-las, e pensava que era burra e
preguiçosa, sua autoestima era muito baixa. Algumas vezes, em casa, ficou de
castigo e apanhou por ter tirado notas baixas, por não ter copiado a matéria do
quadro ou não ter feito o dever e ouviu que “não prestava atenção porque não queria”.
Larissa era uma criança que gostava muito de conversar, simpática, embora
tímida com estranhos. Tinha seu mundo particular, seu mundinho interno, onde
tudo era legal, e principalmente não havia escola. Embora gostasse de algumas
matérias, a cada dia estudar se tornava mais exaustivo, e prestar atenção
impossível. A escola, aliás, já não sabia mais como ajudar Larissa. Ela era uma
menina quieta, bem-comportada e “obediente”, nessas condições, ninguém jamais
desconfiaria que Larissa tivesse TDAH, pois crianças com TDAH não param
quietas! Será?
Olá pessoal! Este foi um post atípico! Estou "começando" o post pelo final, pois resolvi contar a história da Larissa primeiro.
Para quem caiu de paraquedas aqui, está conosco pela primeira vez, seja bem vindo! Meu nome é Júlia, eu sou psicóloga e idealizadora do blog, canal e fanpage Bate papo com pensamentos. Neste blog conversamos sobre assuntos ligados ao nosso dia a dia, e como a psicologia pode ajudar, e gosto de iniciar cada tema com a estória de um personagem, que é sempre fictício, mas acaba tendo um pouco de cada um de nós (o que não significa que temos o problema que estamos discutindo).
Hoje eu contei a história da Larissa, e na semana que vem, na sexta feira, dia 16/06, as 21:15, temos um encontro ao vivo em minha fanpage Bate papo com pensamentos para um bate papo sobre o TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade)! Não tem facebook? Se você não tem facebook, não se preocupe! É só clicar aqui e você poderá assistir à palestra normalmente, só não será possível comentar.
Bem, eu espero que tenham gostado da estória de hoje e lembrando: hoje foi apenas uma INTRODUÇÃO do que teremos na nossa palestra, Ok? Aguardo vocês ansiosamente!!
Abraços,
Júlia B. Benedini - Psicóloga (CRP: 08/14965)